quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Morte e Vida Severina e o Sertão Potiguar




         Ao vivenciar o sertão potiguar e a leitura da obra Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, foi possível perceber elementos comuns que vão desde os aspectos físicos aos culturais. A figura do homem sertanejo nas cidades visitadas, nos remete bem o personagem Severino na obra lida, no início, quando o retirante explica ao leitor quem é e a que vai, onde o mesmo relata a presença de vários Severinos, entende-se de um nome popular, comum que atribuído a aqueles que nascem no sertão nordestino, assim como José, Francisco, vistos no Museu do Sertanejo, em Acari. 

    Fonte: Foto tirada pelos alunos do IFRN, no Museu do Sertanejo, Acari/RN.



            As ladainhas, orações e a adoração à imagem católica como a Virgem Maria são cultivadas pelo sertanejo, foi um dos fatores semelhantes constatados na obra e na aula de campo, em que eram adotadas em momentos de alguma necessidade, dificuldade da consequência da seca.


        Características das paisagens dos locais visitados assemelham muito ao da obra, como o bioma da caatinga, animais e a vegetação seca, rios intermitentes e os açudes. De acordo com a historiadora do Museu do Sertanejo, antigamente grandes vilas, passariam a ser chamadas de cidades, como é o caso de Currais Novos. Portanto esses fatores são apresentados no livro, Onde o retirante tem medo de se extraviar porque seu guia, o rio Capibaribe, cortou com o verão. Destacamos os principais trechos que comprovam essa semelhança: 



“— Antes de sair de casa
aprendi a ladainha
das vilas que vou passar
na minha longa descida.
Sei que há muitas vilas grandes,
cidades que elas são ditas;
sei que há simples arruados,
sei que há vilas pequeninas,
todas formando um rosário
cujas contas fossem vilas,
de que a estrada fosse a linha.
Devo rezar tal rosário
até o mar onde termina,
saltando de conta em conta,
passando de vila em vila.
Vejo agora: não é fácil
seguir essa ladainha;
entre uma conta e outra conta,
entre uma e outra ave-maria,
há certas paragens brancas,
de planta e bicho vazias,
vazias até de donos,
e onde o pé se descaminha.
Não desejo emaranhar
o fio de minha linha
nem que se enrede no pêlo
hirsuto desta caatinga.
Pensei que seguindo o rio
eu jamais me perderia:
ele é o caminho mais certo,
de todos o melhor guia.
Mas como segui-lo agora
que interrompeu a descida?
Vejo que o Capibaribe,
como os rios lá de cima,
é tão pobre que nem sempre
pode cumprir sua sina
e no verão também corta,
com pernas que não caminham.
Tenho que saber agora
qual a verdadeira via
entre essas que escancaradas
frente a mim se multiplicam.
Mas não vejo almas aqui,
nem almas mortas nem vivas;
ouço somente à distância
o que parece cantoria.
Será novena de santo,
será algum mês-de-Maria;
quem sabe até se uma festa
ou uma dança não seria?”





              Imagem de Padre Cícero, no Museu do Sertanejo, Acari/RN, eram adotadas pelos sertanejos     como forma de alcançar uma graça:

     Fonte: Foto tirada pelos alunos do IFRN, no Museu do Sertanejo, Acari/RN.


Na metade do século XX, o Nordeste foi cenário de uma das maiores secas que aconteceram na história do sertanejo, o que, portanto justifica o fato do maior número de retirantes que saíram de sua terra natal, o sertão, em busca de melhores condições de vida, o litoral era o ponto de partida de muitos, como é o caso de Severino que decide mudar para o litoral pernambucano, Recife. Porém o RN, também foi cenário de seca, no mesmo período em que a obra foi escrita, ainda sobre os conhecimentos adquiridos no Museu do Sertanejo, era frequente ver famílias que se deslocavam para outros lugares, tentando fugir da seca que alastrava o sertão, o que impedia a agricultura e a criação de gado.


A luta do sertanejo pela sua sobrevivência no sertão: 

    Fonte: Foto tirada pelos alunos do IFRN, no Museu do Sertanejo, Acari/RN.


             Trecho do livro Morte e Vida SeverinaCansado da Viagem o retirante pensa interrompê-la por uns instantes e procurar trabalho ali onde se encontra:


“...Na verdade, por uns tempos,
parar aqui eu bem podia
e retomar a viagem
quando vencesse a fadiga.
Ou será que aqui cortando
agora minha descida
já não poderei seguir
nunca mais em minha vida?...”






    Fonte: Foto tirada pelos alunos do IFRN, Carnaúba dos Dantas/RN.


        Fonte: Foto tirada pelos alunos do IFRN, Carnaúba dos Dantas/RN.

    Fonte: Foto tirada pelos alunos do IFRN

Nenhum comentário:

Postar um comentário